Neste
período de férias, observando o dia-a-dia de meu filho de sete
anos, percebo o quanto a escola pode ser um espaço opressor,
desestimulante, ignorante, pedante e outras mais que sei, podemos
incluir aqui.
Meu
filho tem uma mudança de humor, de olhar para a vida, de avaliar o
seu dia que muda, e muita muito, quando não está na escola.
Todos
os dias ele acorda, relaxa e pergunta se pode usar o tablet, o
computador ou o videogame, esse último com muito mais frequência.
Me
preocupo com o tempo que ele passa nessas atividades, quando poderia
brincar com outras crianças, realizar atividades físicas e outras
coisas mais. Mas, tenho lido muito sobre os chamados nativos digitais
e suas particularidades. Particularidades essas, que devemos buscar
conhecer e entender, para não agirmos equivocadamente na educação
de nossos filhos.
Na
escola, meu filho realiza atividades diversas, entre elas está o
futebol, judô, educação física, ginástica olímpica e natação.
Acho mais que suficiente para ele. Então, nas férias, acho que ele
tem o direito de não querer fazer nada disso, de fazer só o que
gosta. Ele tem o direito de deixar as regras, deixar a rotina de
lado, viver sua própria rotina, dentro é claro de uma rotina mais
flexível, mas existente, no que diz respeito a alimentação,
higiene e outras coisinhas a mais que fazem parte do nosso dia-a-dia
e que não tiram férias.
Mas,
voltando às mudanças do meu filho, percebo a felicidade com que ele
me aborda o dia inteiro, para falar de suas descobertas, de suas
conquistas. Ele mostra um entusiasmo, quando consegue realizar ou
descobrir algo novo, que eu gostaria muito que fosse recíproco
quando se fala da escola. Sem contar nos inúmeros abraços e beijos,
nos “mamãe eu te amo”, “estou muito feliz”, que completam
meus dias.
Essas
observações me levam a pensar porque as coisas são como elas são.
Pensem na escola como ela é hoje? Como era na sua época?
Eu
adorava a escola, adorava mesmo! Adora as tarefas de casa, me sentia
importante fazendo-as. Lembro-me de que não era necessário meus
pais solicitarem que eu fizesse as tarefas, eu as realizava com o
maior prazer e, se tivesse mais, as faria com o mesmo prazer.
Por
quê eu adorava a escola? Por quê eu adorava as tarefas de casa?
Porque como muitas crianças, tive uma infância simples e sem muitas
diversões. Pouquíssimos brinquedos, pouquíssimos canais de TV,
poucos passeios e muito tempo livre. Então, a escola era o espaço
para encontrar os amigos, descobrir coisas novas, brincar, ocupar
este tempo livre.
Atualmente,
as crianças iniciam muito novas suas vidas acadêmicas. Algumas,
como meu filho, entram na creche com meses e seguem uma rotina
cansativa, como a de seus pais, passando o dia inteiro fora de casa.
Sei que podem haver discordâncias quando eu falo que iniciam suas
vidas acadêmicas, mas uma grande maioria das creches realizam
atividades educativas desde cedo. Tenho muitos trabalhinhos de meus
filho que foram feitos por ele quando ainda tinha meses de idade.
Acrescento isso a sua vida acadêmica.
Os
primeiros anos escolares, antes do ensino fundamental, apresentam-se
aos alunos de maneira dinâmica, divertida, estimulante. Eles
realmente gostam do que fazem, curtem o momento, o aprendizado e
mostram-se felizes com seu dia e com suas conquistas. A mudança
drástica que ocorre na passagem da Educação Infantil para o Ensino
Fundamental causa traumas, assusta, e até mesmo pode levar a criança
a olhar a escola como um inimigo.
Sempre
questionei o porque dessas mudanças tão drásticas. Por que não
conseguimos repetir o sucesso da Educação Infantil no Ensino
Fundamental? Aos cinco anos de idade, a criança é “linda”,
“fofa”, “criativa”, “dinâmica”... ao completar os seis
anos, esta mesma criança, precisa entender, isto é, com a diferença
de vinte quatro horas, entre ter cindo anos e ter seis anos, que a
vida não é tão simples e colorida como ela pensava. Essa criança,
agora com seis anos, precisa entender que a escola não é para
brincar, que a grande quantidade de conteúdo a ser trabalhado nos
seus anos escolares requer uma postura mais “adulta”, essa
criança precisa rapidamente crescer, amadurecer para conseguir
acompanhar sua vida acadêmica, agora no Ensino Fundamental.
Menos
parquinhos, mais horas em sala de aula, menos pintura, mais treinos
de caligrafia, menos interação, mais atenção ao professor.
O
pior de tudo é que eu como mãe, sigo o “plano” engendrado pela
sociedade e, submeto meu filho a “essa escola”, a “essa
sociedade”, onde quanto mais cedo aprender e em maior quantidade,
melhor.
Se
você comparar o que as crianças aprendem hoje aos sete anos de
idade com o que você estava aprendendo nesta mesma idade, verá que
elas estão aprendendo muito mais coisas do que você consegue se
imaginar capaz. Mas, se elas estão acompanhando, isso é um sinal de
que tudo está bem. Isto será importante para o futuro delas. A
escola sabe o que faz. Afinal de contas, a escola tem centenas de
alunos, e não pode estar tão errada assim. Talvez você é que não
entenda todo o processo educacional de hoje.
Me
pergunto, com todas as mudanças ocorridas na sociedade, no cotiano
de seus cidadãos, onde estão as mudanças na escola? Qual a
diferença da sua escola para a escola do seu filho? Como você
aprendeu e como ele aprende? Qual a formação de seus professores e
qual a formação dos professores de seu filho? Como era o seu livro
didático e como é o livro didático do seu filho?
Meu
filho tem facilidade em aprender e é muito participativo nas aulas,
isso segundo seus professores. Faz muitas perguntas, sempre questiona
a fala dos professores e até hoje ainda tem muito frequente o “por
que?”. Mas, recusa-se a realizar as tarefas que exigem o registro
através da escrita. Quando o professor pede que copie do quadro
então, aí é que ele não faz mesmo. Por este motivo, não tira
notas muito boas, está sempre pendurado, sempre na média exigida
pela escola.
Quando
você pergunta o motivo pelo qual ele não quis fazer a tarefa ele
fala que “é muito chata”, “já fiz uma igual” ou “não sei
fazer”.
Nada
de novo que ele aprenda na escola é relatado com tanto entusiasmo
quanto quando ele descobre algo nas atividades que ele realiza em
casa, principalmente no período de férias.
Aí
você poderia dizer que é óbvio que ficar jogando videogame é
muito mais prazeroso, utilizar um computador ou um tablet é
bem mais legal. Mas, então, porque a escola, que já sabe disso, não
inseri esses recursos em seu cotidiano? Recursos esses que fazem
parte do dia-a-dia do aluno e que criam uma separação entre a vida
social e a vida escolar dele.
Meu
filho, quando está interessado em um jogo, não fica “só
jogando”. Ele realiza buscas no youtube, para assistir vídeos
sobre o jogo, ele acessa fóruns sobre o jogo, lê as dicas e dúvidas
dos participantes, comenta, experimenta, testa a informação
adquirida e transforma-a em conhecimento. Ele não está apenas
repetindo, ele está adaptando, praticando, transformando. Isso, com
pouquíssimas ou nenhuma interferência de um adulto. Essas buscas e
tentativas ele faz sozinho, e só recorre a um adulto quando não
consegue seguir a diante.
Não
me intendam mal, não quero dizer com isso, que ele pode fazer tudo
sozinho, só quero dizer que depois que lhe dão o caminho, a
direção, ele segue sozinho e quando se perde, busca quem pode
orientá-lo. É claro que ele precisa de alguém para lhe ensinar a
ler, a escrever, a utilizar um site de busca, um fórum, mas quando
ele tem a direção ele continua em frente, buscando a informação,
construindo o conhecimento próprio.
Não
vou nem citar as habilidades desenvolvidas com essas atividades.
Muitos adultos, infelizmente, não conseguem desenvolver tais
habilidades, não por não terem competências para tal, mas porque
são de “outra época”, de “outro momento
“, e não tiveram as orientações certas.
“, e não tiveram as orientações certas.
Algumas
pessoas, quando falam em videogames parece que estão falando sobre
algo inútil, fútil e que estraga as crianças. Não procuram
entender e nem conhecer de perto, antes mesmo de julgar. A escola se
comporta de maneira muito semelhante, julgam a tecnologia antes mesmo
de conhecer, nem sequer tentam usá-la. Acham que só servem para
entrenter, divertir, como se no entretenimento, na diversão, não
existisse aprendizagem.
Se
você está doente e não usa o remédio que o médico lhe receitou,
vai continuar doente. Até mesmo piorar. Então para que você vai ao
médico?
Se a
escola está com problemas e conhece esses problemas, porque não
tenta resolver? A sociedade atual, chamada de sociedade digital, já
não se encaixa mais nos moldes da educação tradicional, onde a
inclusão do quadro negro e até mesmo do livro didático causou
desconforto e recusas. A questão está no novo, todos temos medo do
novo, não conhecemos, não dominamos não sabemos o que fazer com
ele. Principalmente o professor, acostumado a dominar o conhecimento,
a ser o detentor deste, fica bem desconfortável com o novo
interferindo em sua aula, em seu espaço, em seu domínio.
Mas,
já se passaram mais de quatro décadas, desde que se iniciou as
discussões sobre a introdução das novas tecnologias no ambiente
escolar. Não podemos mais dizer que é novo, e por isso assusta.
Deixemos de usar as mesmas descultas de quarenta anos atrás e
façamos o que tem que ser feito. A escola precisa urgentemente
entender que para fazer parte desta sociedade digital, ela precisa
aceitar as mudanças no seu espaço físico e principalmente em seus
alunos, que já não querem mais aprender somente com um livro e com
o professor. Querem ampliar horizontes, querem explorar outras
fontes, outras mídias e principalmente, querem interagir,
participar, construir junto, e não receber pronto.
Precisamos
deixar de formar autômatos, precisamos deixar que eles desenvolvam
habilidades necessárias a esse novo mundo. Precisamos deixar de nos
preocupar com a bela caligrafia, com o algorítmo imposto, e nos
preocupar mais com as competências a serem desenvolvidas para
viverem e sobreviverem nesta nova sociedade. Competências essas que
me parecem, eles desenvolvem melhor fora da escola, agindo como
cidadãos que são, pertencentes à sociedade digital, mergulhados na
cibercultura, criando e recriando o conhecimento, buscando a
informação, interagindo, compartilhando, socializando.
Não
acredito que meu filho não goste de aprender, não goste da escola.
Acredito mais, que ele não reconheça a escola como um espaço para
aprender. Aprender no sentido do nativo digital, aprender
dinâmicamente, interagindo, buscando, construindo, reconstruindo,
tornado-se ativo no processo ensino-aprendizagem e não mais um
autômato recebendo os comandos que deverá executar. Isso não é
aprender. Ele realmente não nasceu para autômato e por isso não se
encaixa no sistema de ensino atual.
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